Ele, mal sabendo que além do primogênito viriam mais dois, começou a juntar moedas olhando para o futuro.
Em latas vazias de biscoito, camadas de réis se juntaram a cruzeiros, depois a cruzeiros novos, voltaram a ser cruzeiros, até começarem a cobrir a superfície de cruzados desenhando uma espécie de torre, onde cada horizonte metálico é um recorte do tempo.
Muitas décadas se passaram acreditando na força poderosa e atemporal do dinheiro.
Chegou o momento de ampliar a casa, e também de saber a verdade sobre sua riqueza escondida. Ao perceber que todo o metal acumulado perdeu seu valor econômico, ressignificou. No concreto foram misturados a brita e as moedas. E o coração da casa daquela família Rocha, foi erguido em pilares de suor, acúmulo, perdas e memória, da família Brasil.
Para um geólogo, o solo é o produto de camadas de fragmentos acumulados. Para um arqueólogo, é o meio em que ficam preservados registros de civilizações passadas.
Aquela casa onde meu pai e eu crescemos, para mim é, de certo modo, uma anedota arqueológica sobre a construção das cidades brasileiras.
Horizonte arqueológico sobre a construção das cidades brasileiras
Moedas e arco de serra antigos
Vitória
2021
Fotografias Patrícia Sales