Tete Rocha & ViCtor Monteiro

Omississimo, estudo para a série Ainda não estamos prontos. Objeto em resina, 2020.

Estudos para o isolamento, série Ainda não estamos prontos, resina e prego de cobre, 2020.

A margem mede uma distância vertical.

o sujeito encasula abrigo pessoal em comunidades solitárias, para se proteger daquilo que não é seu.

De cima, um abismo.

O
M
I
S
S
Í  
S
S
I
M
O, o Estado

De baixo, uma barreira

tenta conter o coração da cidade, corpo vivo que se rearticula à medida que avança a margem contra o corpo.

Além da margem é outra paisagem

Ele, mal sabendo que, além do primogênito, viriam mais dois, começou a juntar moedas olhando para o futuro.

Em latas de biscoito vazias, camadas de réis se juntaram a cruzeiros, depois a cruzeiros novos, voltaram a ser cruzeiros, até começarem a cobrir a superfície de cruzados, desenhando uma espécie de torre, onde cada horizonte metálico era um recorte do tempo.

Muitas décadas se passaram acreditando na força poderosa e atemporal do dinheiro.

Chegou o momento de ampliar a casa — e também de saber a verdade sobre sua riqueza escondida. Ao perceber que todo o metal acumulado perdera seu valor econômico, ressignificou. No concreto foram misturados brita e moedas. E o coração da casa da família Rocha foi erguido em sólidos pilares de suor, acúmulo, perdas e memória — da família Brasil.

Para um geólogo, o solo é o produto de camadas de fragmentos acumulados. Para um arqueólogo, é o meio em que ficam preservados registros de civilizações passadas. Aquela casa onde meu pai e eu crescemos é, de certo modo, uma anedota arqueológica sobre a construção das cidades brasileiras.

Imagem extraída de publicação, a partir de visita ao Arquivo Público do Estado do Espírito Santo.

Visita à Vila Rubim.

Pode a cidade que se volta para dentro descobrir que o centro é o mar, 2021.

Tete Rocha  (ES, 1983)

Artista visual e cenotécnica. Sua produção atual reside na intimidade do habitar. Recentemente, tem se voltado à pesquisa do fazer manual com materiais diversos, seja na construção de cenários e objetos cênicos, seja na criação de objetos conceituais, seja na exploração artesanal de joalheria.

Victor Monteiro (ES, 1984)

Artista plástico e montador de exposições. Sua pesquisa poética está voltada a uma reflexão acerca do gesto/trabalho e seus desdobramentos sobre materiais, espaço e corpo.