Pode uma ilha dar as costas para o mar?
O momento em que os pés tocam o mar me traz sempre o mesmo pensamento: Estou na margem do oceano. Eu amo essa sensação de que aqui é o exato limite, a borda móvel, entre o que tem acima e o que está submerso. Nesse sentido, o mar é o que nivela os cumes da terra, montanhas que contém montanhas, que chamamos continente.
Faz tudo superfície e linha reta e rota.
Cruzar a linha de chegada denota uma conquista, que por sua vez, também pressupõe muitas perdas. Temos visto nossa margem ser rasgada já há longo tempo…enfrentamos muitos atravessamentos, tantos, que nos transformaram. Lutamos, morremos, nos tornamos outro, nem nós e nem eles, mas uma mistura desnivelada. Trabalhamos, confiamos e crescemos. Tanto, que se ousou expandir a margem para além da borda, desenhar uma nova topografia ou precipício de receber gigantes.
A Ilha que deseja ser continente volta seus olhos para a terra, aterra, cria pontes e remove da costa os vestígios de conexão com sua origem. Marginaliza tudo o que diz respeito à margem. O mar, que já não é mais a fonte de abastança, passa a ser tráfego de riqueza, para poucos. A cidade, da borda, olha pra dentro e para cima. Não se banha, não tem tempo.
Pode a cidade que se volta para dentro, descobrir que seu centro é o mar? Pode a cidade que se volta para dentro, descobrir que seu centro é o mar. Pára a cidade. O centro é o mar.
Pode a cidade que se volta para dentro descobrir que o centro é o mar, 2021